Ladrão que rouba ladrão... - Um conto da Saga Real de Zerbet

Ladrão que rouba ladrão...


Sinopse: Duan é um jovem salteador que não anda tendo muita sorte... em uma tentativa desesperada, ele decide arriscar sua própria vida para conseguir mais dinheiro do que jamais conseguiu. Só tem um pequeno problema: as próximas vítimas da sua trapaça serão ladrões altamente perigosos, que não medirão esforços para acabar com a sua vida. Munido somente de sua esperteza, ele terá que enfrentar a morte, se quiser conseguir o que quer. Será que sua fama como o esguio Lobo procede? Ele está prestes a descobrir... e você também.

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Duan não vinha tendo sorte, definitivamente.

Dois dias antes, ele havia roubado um velho na estrada para Northport, um velho com uma linda carruagem e muitos pertences, mas quando avaliou seus espólios, descobriu, com amargura, que não havia uma única peça de ouro ou prata entre eles. Nenhuma delas valia a pena ser vendida, com exceção, é claro, da carruagem, mas como eram tempos difíceis para o povo de Zerbet, ele dificilmente encontraria um comprador disposto a pagar o quanto ela realmente valia. Teria que acabar se livrando dela por um preço irrisório, algo que mal o sustentaria uma semana sequer na estalagem mais modesta do condado.

Na semana anterior, teve que lidar com alguns soldados da guarda do reino que, por algum motivo que não entendia, pareciam querer sua cabeça... bom, na verdade havia inúmeros motivos para isso, pensando no assunto. E a solução para todos? Feno, muito feno. Digamos que se esconder em um estábulo por quatro dias nunca era uma experiência agradável.

Mas naquele pôr do sol, enquanto corria para salvar a vida por entre as árvores, sendo perseguido por um grupo enraivecido de salteadores fortemente armados, Duan sorria com satisfação/nervosismo, sem saber exatamente se a sua sorte finalmente tinha retornado... ou se aquele seria o ápice da desgraça, para uma semana nem um pouco divertida.

Bom, tudo dependia do esconderijo. Se conseguisse encontrar um, talvez despistasse seus perseguidores, mas se tropeçasse naquela trilha sinuosa, tudo estaria acabado, não haveria um futuro para aquele jovem ladrão. Os seus inimigos eram conhecidos pelas crueldades, ele os conhecia muito bem, bem até demais.

Duan era um jovem magricelo e esguio, com cabelos compridos, desgrenhados. Não havia muitos pelos em seu rosto, embora ele insistisse em tentar deixar a barba crescer. Os olhos castanhos brilhavam com astúcia e inteligência, mas isso também se aplicava a seus perseguidores. Vestia roupas de camponês, roubadas há tanto tempo que ele nem se lembrava, suas botas velhas faziam um som estranho quando afundavam na lama. Ele franzia a testa com o esforço do peso que carregava, os braços doíam. Aninhado em seu peito, tal como um mascote ou um bebê querido, estava um enorme baú de madeira, ricamente entalhado com formas de pessoas, cavalos e castelos. Dentro, o som de moedas de ouro tilintando enquanto ele se movia com dificuldade por entre os galhos escuros.

- Está ali! Peguem ele! – Gritou uma voz logo atrás, acompanhada de diversos gritos de raiva e satisfação e Duan subitamente soube que era o fim...

Mas como ele chegou aí? De onde veio esse baú do tesouro? Quem são os seus inimigos ferozes? Para respondermos essa pergunta, temos que retornar só um pouquinho... no dia anterior!

                                                                               ...

- Riquezas inigualáveis, você diz? – Indagou o homem à sua frente.

- Sim, ouro em tamanha quantidade que poderá mudar todas as nossas vidas! Faz anos que esses montes não veem tanta riqueza assim, chefe... – Aquela voz tímida, mas empolgada foi seguida por um olhar humilde, na direção de seu antigo superior. Duan sabia como convencer as pessoas, esse talvez fosse seu maior talento.

Ali, diante do trono do grande chefe de Crimeland, o famigerado esconderijo dos mais cruéis salteadores de toda a Zerbet, o jovem Duan se esforçava para parecer um súdito leal, porque era exatamente o que o mantinha no controle da situação.

Sentado no trono de madeira, Lyn era quase tão poderoso quanto um rei, com exceção das roupas simples de camponês que usava. Todos os ladrões do reino o conheciam e tremiam ao ver seu rosto anguloso, repleto de cicatrizes parcialmente ocultas pela barba, então ele não precisava de roupas caras para mostrar seu poder. Sua voz poderosa ocupava todo o salão a cada palavra que pronunciava.

– E você está me dizendo que sabe onde podemos encontrar... esse tal tesouro. – Disse ele, os olhos fixos nos de Duan, desconfiados. – E o que você ganha com isso?

O salteador abriu um meio sorriso e fez uma careta, em resposta. – E eu preciso mesmo ganhar algo em troca? Será que não posso simplesmente querer ajudar meus compatriotas?

O riso sarcástico de Lyn preencheu o aposento, como o estrondo de um trovão.

- Você e eu sabemos muito bem que você só age em favor dos outros se ganhar algo em troca, meu jovem, o que me deixaria um tanto orgulhoso... se você fizesse isso somente com o povo de fora! Mas com os moradores de Crimeland, o seu próprio povo? Não preciso que ninguém me lembre dos últimos incidentes, Duan. Nós ajudamos uns aos outros, juntos nós crescemos. Mas você não pensa assim, pensa? Por isso foi embora.

- Não vim aqui para discutir com o senhor, chefe Lyn. Só estou oferecendo uma oportunidade... por uma pequena taxa do que receber, é claro.

- Claro, claro... uma pequena taxa, você diz? Quanto, exatamente?

- Hum... – Duan franziu o cenho, parecendo pensativo por uns momentos, e então abriu um sorriso, parecendo satisfeito. – 5% do que o senhor receber.

- O que??

- Parece um valor justo, o senhor não acha? Afinal, são muitas moedas de ouro, eu só quero um pouco para poder me sustentar pelas próximas semanas.

Lyn ficou, de repente, silencioso. Seu rosto parecia esculpido em pedra, enquanto avaliava se o risco valia a pena. Por fim, com um suspiro, apontou para um dos guardas que aguardavam próximos à entrada.

- Você, Ron, reúna nossos melhores homens. E deixe que Duan lhes diga a localização do nosso alvo e o plano para botar as mãos nesse ouro que ele tanto fala. Ah, mas não o deixe ir com vocês. Ele ficará aqui, aguardando o retorno da nossa equipe para receber sua parte. Se eles não voltarem... informe aos outros que têm a minha permissão para matá-lo.

O temor, por alguns momentos, invadiu os pensamentos de Duan, mas manteve-se firme. Ele deveria, acima de tudo, demonstrar tranquilidade, para passar a impressão de que ele era confiável e de que tudo daria certo no plano.

Ron, o guarda, assentiu e deu uma leve reverência, em sinal de respeito. Em seguida, virou-se para Duan e se aproximou, lançando um olhar de desprezo. O jovem salteador começou a acompanhar o subordinado de Lyn, mas parou quando percebeu que o chefe se levantava do trono e se aproximava também.

Ele parou bem ao lado de Duan e falou tão baixo que ninguém além deles dois poderia ouvir. – Agradeço pela dica, Duan. Esse dinheiro pode realmente nos ajudar, mas pelo seu histórico... bom, vamos ver. Se esses homens não voltarem, até mesmo eu terei prazer em destruir você, meu querido sobrinho.

Dito essas palavras, o chefe continuou em direção à porta do salão. Duan acompanhou o guarda, mas as palavras de Lyn permaneceram em seus pensamentos, como que gravadas a ferro quente no seu cérebro.

                                                                              ...

A manhã em Crimeland sempre era frenética, com muitas ordens e ordens e ordens... Duan se levantou ao primeiro sinal de raio de sol, antes mesmo das sentinelas da noite serem abordadas por suas substitutas e antes do primeiro som dos treinos no pátio central. Andou furtivamente pelos corredores que tanto conhecia até chegar na bifurcação que levava à sala de tesouros, onde todos os frutos valiosos dos roubos eram guardados. O corredor da esquerda era bem iluminado por tochas, mas o da direita era escuro como o breu, embora Duan soubesse que ele terminava em uma grande porta de mogno tão grossa que seria quase impossível arrombá-la.

“Não há tochas aqui porque quando não se vê, é muito mais fácil ser pego de surpresa”, pensou ele, enquanto se agachava na escuridão. Como poucos na cidade dos salteadores, o jovem tinha conhecimento de pelo menos cinco armadilhas mortais naquele túnel escuro que somente podiam ser desativadas por aqueles autorizados a possuir tal conhecimento. “Os homens mais confiáveis... dele”.

Pensar no chefe de Crimeland preenchia seus pensamentos de rancor. Ele balançou a cabeça para reorganizar os pensamentos. Não, ele não sabia como desarmar as armadilhas, mas ele não precisava saber. Só mais uns minutos e... isso! São eles.

Duan se espremeu atrás de uma pilastra, enquanto os passos se aproximavam, vindos do caminho que levava para fora do complexo. Iluminados somente pelas luzes das tochas, surgiam dois homens, um do lado do outro, carregando o que parecia ser um baú no meio deles. O verniz da madeira brilhava intensamente com o reflexo das luzes bruxuleantes das chamas, mas os dois salteadores pareciam não se importar.

Ali, oculto para que ninguém percebesse sua presença, o jovem encarava a cena maravilhado, os olhos brilhando quase tanto quanto o baú. Tudo estava acontecendo como ele planejara.

O grupo passou direto por ele, sem notar sua presença, e parou no início do corredor escuro. Ambos os homens se agacharam e colocaram o pesado baú no chão e, enquanto um deles vigiava, o outro se aproximou de uma das paredes, onde encontrou uma pedra solta entre outras tantas iguais a ela. Entre ela e as suas vizinhas, havia fendas largas o suficiente para que alguém conseguisse puxar a pedra para fora de seu lugar. Sem esforço, o sujeito a colocou no chão, com cuidado, e olhou na direção do buraco que ela tinha deixado. Estava escuro, mas Duan pensou ter visto algo como uma alavanca ali dentro. Ele observou, calmamente, enquanto a mão do homem desaparecia no vão e, subitamente, ele pôde ouvir um ruído baixo de engrenagens deslizando uma contra a outra. “As armadilhas foram desativadas”, pensou ele, embora o ar ainda cheirasse a expectativa.

Os dois salteadores levantaram novamente o baú e seguiram em direção à escuridão. Ele conseguia ouvir ainda o som dos seus passos, então ainda não tinham sofrido mortes horríveis... o que significava que ele poderia seguir com seu plano.

Duan poderia ser jovem, mas havia um motivo pelo qual ele era tão odiado pelos nobres: ele sabia ser silencioso quando queria, o que o permitiu roubar muitas pessoas sem que elas se dessem conta até que fosse tarde demais.

Os lobos de Zerbet ocupavam as regiões mais ao norte, o que incluía Northport e Stamder, os condados onde Duan costumava agir. Eles eram extremamente silenciosos quando estavam caçando, raramente faziam qualquer movimento impensado, eram como sombras da floresta, assim como aquele garoto. Por esse motivo, alguns camponeses começavam a chamá-lo de Lobo, algo que Duan começava a apreciar. Para ele, desde sempre, assim como para todos os moradores de Crimeland, ser temido ou ser respeitado eram sinônimos.

E aquele era o momento ideal para ele provar suas habilidades furtivas. Como um fantasma, ele se esgueirou pela escuridão, com movimentos tão leves que seus passos não seriam ouvidos nem mesmo se os salteadores parassem de ouvir seus próprios passos e prestassem atenção. Para todos os efeitos, ele não existia. Havia apenas a escuridão, em todas as direções, naquele corredor.

Mas ele conseguia ouvir os sons advindos da dupla à sua frente e o som do tilintar das peças de ouro dentro do baú, embora não conseguisse vê-los.

Enquanto seguia em direção ao seu destino, o jovem se sentiu aliviado por nenhum dos dois homens ter levado uma tocha, provavelmente porque não conseguiriam segurá-la, uma vez que precisavam carregar o baú com as duas mãos. Caso contrário, ele provavelmente seria visto.

Por fim, ele sentiu estar chegando ao final do corredor. Era como se o ar tivesse mudado. Agora, havia um odor diferente no ambiente, como... como tochas queimando. Mais à frente, ele via algo tremeluzindo, algo brilhante que parecia vir de algum aposento adiante. Na penumbra, ele conseguia discernir a porta de madeira e dois vultos do lado de dentro e aos seus pés...

O coração de Duan parecem parar de bater por um instante. O que ele via era ouro???

Ainda como uma sombra silenciosa, ele se escondeu atrás da porta e olhou cuidadosamente para dentro do salão de tesouros. Os salteadores haviam acendido duas tochas que ficavam nas paredes e colocado o tesouro no chão. Ao redor, ele podia ver diversas peças de cozinha feitas de ouro e prata, como facas, colheres e pratos. Havia também algumas moedas douradas pelo chão, formando pequenos montes, o que era um tanto decepcionante para suas expectativas originais, mas afinal, fazia sentido, pois aqueles ainda eram anos difíceis. A Era das Trevas assombrava o reino e as pessoas estavam mais pobres. Nem os maiores roubos traziam à cidade os mais preciosos tesouros. Talvez, se Lyn tivesse mantido sua lealdade às bruxas, a cidade ainda estivesse recebendo parte do lucro que elas obtinham com os saques dos castelos, mas um desentendimento havia deixado Crimeland com poucos aliados. E fora por isso mesmo que Duan sabia que Lyn nunca recusaria a possibilidade de adquirir um baú repleto de moedas de ouro.

Mas uma pontada de culpa parecia atravessar seu peito com aquela visão. Se escolhesse seguir seu plano, se trapaceasse, estaria prejudicando não só Lyn, mas também todo o povo de Crimeland, o lugar onde tinha nascido, onde tinha sido criado... tudo bem, seu tio não era um bom pai, para falar a verdade. Desde que seus pais morreram, ele ficou sobre a tutela de Lyn, sendo treinado para um dia se tornar digno do cargo de chefe dos ladrões.

Sim, ele achava interessante comandar a cidade dos salteadores, mas seus sonhos pediam por algo... maior.

Valeria a pena tudo aquilo afinal? Talvez, se simplesmente esquecesse o plano, ele poderia cair nas graças de seu tio e, possivelmente, ser cotado como seu sucessor...

Não.

Ele não desistiria de seus planos só por causa de sentimentalismo barato. Ele sonhava com muito mais riqueza do que aquele lugar jamais poderia lhe proporcionar.

Os homens apagaram uma das tochas e um deles pegou a outra da parede. Duan conseguiu ouvir a voz do sujeito, resmungando para o outro. – Não vou voltar por esse corredor no escuro. Da próxima vez, vou exigir que alguém venha conosco para levar a tocha enquanto carregamos os tesouros. Esse lugar me dá calafrios.

- Não seja medroso, Cassian, todas as armadilhas foram desativadas.

Eles ainda olhavam para o baú. Era o momento perfeito. Duan se esgueirou pela porta e, agachado, se escondeu atrás de um monte de joias e moedas de ouro. Os sujeitos, no entanto, estavam absortos em sua conversa que não se deram conta que havia mais alguém ali com eles.

- Não estou sendo medroso Luke... mas moramos em uma cidade de ladrões. As pessoas aqui fazem tudo por dinheiro. E se fôssemos atacados por algum salteador, naquele escuro? O que você faria?

Luke riu-se, abrindo um sorriso debochado para Cassian. – Eu mataria o espertinho que teria coragem de nos ameaçar. Afinal, esse dinheiro é para todos aqui. Não para ficarmos roubando entre si.

- Mas o que acha de... pegarmos somente umas moedas? – Indagou Cassian, em um tom conspiratório.

Seu companheiro franziu o cenho, sem parecer entender. – O que foi que eu acabei de dizer, seu idiota?! Não roubamos de nosso próprio povo.

- Mas ninguém vai dar falta de algumas moedas... podemos comprar algumas boas cervejas na taverna mais próxima, por exemplo!

- Cassian, esse baú está trancado. Não conseguimos abri-lo quando o roubamos daquela garota nobre, por que tentaríamos agora? Nosso chefe está esperando o relatório! Vamos logo.

- Mas podemos pegar qualquer moeda dessas aqui! – Exclamou o salteador, abrindo os braços para indicar o aposento.

- Esqueça, vamos embora logo daqui.

Resmungando baixo, Cassian levantou a tocha na direção do corredor e seguiu na frente. Duan, que observava ainda oculto, conseguiu, no entanto, flagrar o momento exato em que Luke rapidamente se abaixou, pegou uma moeda do chão e a guardou no bolso da calça. “É, eles não são tão diferentes de mim, afinal”, pensou o ladrão renegado, com um leve sorriso no rosto.

E naquele instante, quase como que por conta própria, uma das moedas do monte de preciosidades atrás do qual ele se ocultava, deslizou direto para o chão. O som ecoou pelo aposento e chamou a atenção dos dois salteadores.

- O que foi isso? – Indagou Cassian, meio atento, meio assustado.

Um longo momento de silêncio se fez, enquanto a dupla observava ao redor, em busca de algo incomum. Por fim, Luke tornou a andar para fora dali.

- Ah, não deve ter sido nada! – Exclamou ele. – Não tem ninguém aqui, além de nós.

Cassian olhou por mais alguns instantes, mas pareceu chegar a mesma conclusão do colega e, por fim, desapareceram de vista, fechando a porta atrás de si. O som de seus passos atravessava o corredor, cada vez mais distante, até que se tornou inaudível. Somente então, Duan agiu.

Ele se aproximou rapidamente da parede onde estava a tocha apagada, tateando pois o breu era tanto que ele não enxergaria nem mesmo as mãos próximas ao rosto. Quando, depois de algum tempo, ele finalmente a encontrou, uma de suas mãos foi ao bolso direito, onde havia duas pedras de fogo, que ele sempre levava consigo para ocasiões... como aquela. Sem muito esforço, ele conseguiu reacender a tocha e a ergueu acima de sua cabeça para encontrar novamente o baú de tesouros, e com um sorriso tenso no rosto, tirou de outro bolso da calça uma chave de bronze e a colocou na fechadura dourada que o mantinha fechado. Quando girou a chave, ouviu-se um suave “clic” e então, felizmente para ele, o baú estava aberto.

O seu conteúdo, certamente, teria trazido ódio, decepção e talvez até desespero para qualquer salteador que tinha se esforçado para obter a suposta “riqueza”. Por outro lado, para Duan não era nenhuma surpresa. Na verdade, era exatamente o que ele pretendia encontrar: dentro havia uma série de peças como varas, jarros e pratos, feitos de latão, cobre e metais mais pesados, sem muito valor monetário. Com impaciência, ele começou a esvaziar o baú, sabendo que em breve, guardas do chefe viriam pessoalmente para tentar abri-lo, com o objetivo de confirmar as suas alegações.

Assim que a última peça de latão foi retirada, Duan se pôs a juntar o máximo número de moedas de ouro e prata que conseguiu, dentre aquelas que estavam dispostas nos montes ao redor. Assim que o baú ficou cheio até um pouco acima da metade, seu peso já era quase insuportável para um homem sozinho carregar. Ele, por fim, fechou novamente o baú e levantou-se, pensativo: como abrir a porta da sala do tesouro por dentro? Como carregar aquele baú sozinho? Será que os salteadores haviam ativado novamente as armadilhas? Bom, nessas situações, ele sempre improvisava. Mas não havia muitos recursos ali para serem usados, talvez se...

Seus pensamentos foram interrompidos pelo som das portas se abrindo e ele mal teve tempo de se mover quando uma figura surgiu na entrada, os olhos voltados para ele. Por um instante ele pensou que fosse um dos guardas para conferir o tesouro, ou pior, o próprio Lyn, mas então o seu ser foi preenchido de alegria e alívio ao reconhecer o vulto que caminhava na sua direção.

- É tão bom te ver, Dina.

- É claro que você não tinha um plano de escape. É claro. – Disse a mulher, dando-lhe um beijo. – Você nunca tem.

- Admita, você ficou preocupada comigo.

Dina olhou ao redor, um tanto fascinada com o ouro que os cercava, antes de responder, e Duan a observou, fascinado: seu rosto moreno parecia esculpido em madeira, os olhos castanhos aventureiros pareciam joias brilhantes. Os cabelos negros caíam presos em um rabo de cavalo pelas costas e pelos ombros, de um jeito que Duan achava encantador. Ela usava um simples vestido e botas de viagem, combinando com as roupas de seu parceiro... a voz dela instantaneamente o trouxe de volta à realidade. – Eu sempre fico preocupada, mas você sabe se virar... é claro que com a minha ajuda.

- E é por isso que eu te amo. Agora, me ajude a levantar esse baú para darmos o fora daqui.

Naquele exato segundo, como se esperasse o momento certo, a tocha se apagou. Duan a jogou longe e procurou novamente o baú.

Um de cada lado do objeto, como os salteadores antes deles, os dois levantaram a peça preenchida de riquezas e se dirigiram à porta aberta.

- E as armadilhas? – Indagou ele.

- Desativadas. Os tolos que trouxeram esse baú para cá esqueceram de armá-las novamente, provavelmente achando que facilitariam para a guarda quando ela vier atrás do tesouro. – Comentou ela, quando começaram a avançar pelo corredor em sombras. – Você encheu até a borda?

- Não dava. Seria impossível correr com esse baú cheio de ouro, o que provavelmente vai acontecer quando sairmos desse lugar. Aliás, como você entrou?

Dina abriu um sorriso. – Às vezes você se esquece que eu sei invadir tão bem quanto você.

- Sim... a diferença é que você sabe como sair daqui. Certo?

- Bom, mais ou menos.

- Hum, para mim, serve.

A dupla avançou em silêncio pelo corredor escuro. Quando finalmente chegaram na bifurcação, seguiram para o quarto de hóspedes, onde Duan tinha passado a noite. Felizmente, não encontraram outros salteadores e o seu cômodo parecia vazio.

Sem perder tempo, Duan esvaziou a sacola de bagagens e, juntos, os dois colocaram cuidadosamente o baú em seu interior e a fecharam. Depois, observaram os pertences que tinham jogado na cama e Dina encontrou algo que lhes poderia ser útil.

- Um manto? – Perguntou Duan, confuso. – O que você pretende com... ah.

- Exato. Vamos logo, antes que Lyn descubra alguma coisa. Não quero estar aqui quando ele jurar a sua morte.

                                                                              ...

- O que é...  quem são aqueles, Lurad?

- Como que eu vou saber, Tim??? Eu não conheço todos da cidade não.

Os dois guardas mantinham-se protegendo a entrada para o vale de Crimeland. Ao seu redor, os imponentes montes erguiam-se como gigantes, cobrindo a luz do sol. Vindo da cidade, ele podia distinguir duas pessoas... uma bela moça de cabelos negros e um sujeito meio corcunda com um manto cobrindo as roupas e um capuz ocultando o rosto. Eles pareciam carregar um saco de tecido grosso no meio deles, e pelo jeito como eles avançavam, a carga era pesada.

- Boa tarde, meus caros. Vamos levar algumas armas para auxiliar um dos nossos grupos em uma emboscada aqui perto. – Anunciou a mulher, com um sorriso no rosto, embora seu olhar demonstrasse exaustão. Talvez, pelo peso da carga que carregava com seu amigo misterioso.

Lurad tossiu e afirmou. – Claro, senhora...

- Gertrude. – Respondeu ela, simpática. 

- Senhora Gertrude. Podem seguir... onde é o assalto?

- Não nos foi informado. Fomos autorizados a entregar as armas para um homem em Colth-Armor. Ele vai se encarregar do resto. Vocês sabem como o chefe é... desconfiado. As pessoas comentam na cidade, e ele não quer que inimigos descubram sobre o assalto... ainda mais com Duan Harish hospedado aqui.

- Sim, sim. Sabemos como o chefe é. – Comentou casualmente, Tim, rindo-se. – Pode passar senhora Gertrude e seu amigo...

- Bingo. – Disse o homem de capuz, com uma voz cansada e rouca, quase inaudível.

Tim e Lurad se entreolharam. – Senhor... Bingo. Podem passar, só antes deixem-nos conferir o conteúdo da sacola.

- Não haveria nenhum problema... porém... – Disse a mulher. – Vamos precisar informar o chefe sobre isso, já que ele nos ordenou que não deveríamos revelar as armas que estamos carregando, por questões de segurança. Dessa forma, é claro que vocês entenderão se nós tivermos que conversar com ele antes de vocês terem a permissão para ver o conteúdo... Bingo, pode chamar o chefe Lyn, por favor?

- Espere! Tem certeza de que é mesmo necessário? – Indagou Tim, mas a mulher já afirmava, veementemente, com um aceno da cabeça.

- Sim, foram ordens expressas.

- Hum... se deixarmos vocês passarem sem olharmos o interior da sacola, vocês não vão chamá-lo, vão?

- Não.

- Então, acho que... vocês estão liberados para passar.

- Muito obrigado, guardas! – Disse ela e os dois se puseram a andar quando os homens abriram caminho.

- E cuidado na viagem com essa sacola. Deve estar pesada!

- Claro, tomaremos.

Assim que os dois estavam longe o suficiente para que ninguém mais ouvisse o que diziam, o homem de capuz virou-se, debochado para sua parceira. – Gertrude? Sério, Dina?

- Gertrude foi um nome criativo... mas Bingo? Nessa você se superou, Duan.

- Bom, agora só precisamos pegar uma montaria no curral e arrumar um meio de levarmos conosco o baú, então sairemos daqui o mais rápido que pudermos. – Disse ele, apontando para a sacola que carregavam e olhando ao redor. Ele sabia que, a qualquer momento no caminho, eles se deparariam com o grupo de cavalos que os salteadores mantinham para uso nas emboscadas.

Não demorou muito e eles avistaram um curral de madeira em um dos montes mais baixos logo à frente. A dupla se aproximou, acenando simpaticamente para o cuidador, um homem carrancudo que os observou sem dizer uma única palavra.

- Bom homem, será que teria um cavalo para nós e, também, um meio de levarmos essa nossa carga? Ela é bastante pesada. – Gritou Dina.

O cuidador olhou para ela e então para o seu companheiro de manto e capuz e suspirou, percebendo que seria inevitável falar com eles. – Posso ajudá-los com isso e...

Naquele momento, uma brisa forte assolou o vale, quase como o prelúdio para uma tempestade longínqua, e o vento abaixou a capuz de Duan, revelando seu rosto.

Ele novamente cobriu o rosto, mas não havia escapatória. O cuidador o olhava, perplexo. – Você... você é o Lobo, Duan Harish! Mas... você não tem permissão para sair da cidade até que Lyn o libere... e eu não recebi nenhuma notícia dele ainda.

- Bom, como pode ver, já fui liberado. Lyn conseguiu o que queria, e estamos todos felizes aqui!

- Não, não... Lyn nunca deixaria de me avisar. Eu vigio esses montes para ele, gerencio quem entra e quem sai... Você está fugindo! Fugindo!!!

Rápido como um raio, o cuidador correu em direção ao vale, acenando furiosamente para chamar a atenção dos guardas. No instante seguinte, eles puderam ouvir o ressoar de um apito no vale e o som de vozes. Vozes confusas e raivosas. Duan e Dina se entreolharam.

- Não teremos tempo de preparar os cavalos para nos levarem e ao tesouro... – Disse ela, olhando fixamente para o caminho de onde tinham visto. Ao longe, o ressoar de armas sendo desembainhadas parecia ecoar por entre os montes.

De repente, Duan teve uma ideia desesperada. Bom, pelo menos era uma ideia, dada as circunstâncias. – Dina, monte num dos cavalos e vá buscar a carona. Vou levar o baú e tentar chegar no ponto de encontro que marcamos, aquele onde eu te encontraria se...

- Se você tivesse conseguido sair daqui sozinho? – Completou ela, levantando uma sobrancelha.

- Isso.

- Mas você vai estar lá, não é?

- Você está se perguntando se eu vou estar lá ou se o baú vai estar lá?

- Ambos, é claro. Só... me prometa que não vai fazer nenhuma coisa estúpida.

- Senhorita Dina, está preocupada comigo?

- Cala a boca. Agora... boa sorte. – Eles se despediram com um beijo e a mulher montou no cavalo mais próximo. A montaria desapareceu rapidamente por entre os montes, levando consigo Dina.

Quando soube que estava sozinho, Duan sentiu o medo tremer suas pernas. Isso era raro, ele tinha que admitir. Sentir tanto medo. Na maioria dos casos, era ele quem inspirava medo.

Mas todo o medo desapareceu no momento que ele viu os salteadores raivosos surgindo do caminho que levava à cidade dos ladrões, as mãos empunhando adagas, machados, machadinhas, espadas e lanças. O grupo virou-se na direção dele, gritando e berrando palavras impronunciáveis que eram levadas pelo vento e distorcidas pelo eco entre os montes.

Nem mesmo Duan saberia como o que fez em seguida seria possível. Tomado por pura adrenalina, o jovem salteador levantou, com as duas mãos, a sacola contendo o pesado baú, o segurou contra o peito e pôs-se a correr, como se a sua vida dependesse disso.

E de fato, dependia.

Sua visão estava repleta de manchas vermelhas, seus braços doíam tanto que ele mal os sentia, mesmo sendo um homem acostumado a carregar peso. Suas pernas estavam exaustas, mas ele continuava correndo. Seguiu por entre os montes, desviando para norte assim que teve oportunidade, a grama curta sob seus pés, sua figura parcialmente oculta pelas sombras das enormes formações rochosas, mas em algum lugar atrás dele, ele conseguia ouvir os gritos e o tilintar das armas. Os inimigos continuavam no seu encalço, talvez alguns montados em cavalos e, se fosse esse o caso... ele não duraria muito.

Duan desviou de um arbusto no caminho e continuou correndo por entre o labirinto de montes, achando que sabia para onde estava indo. O sol já descia vagarosamente no céu... mas como? Quando ele entrara no salão dos tesouros, era de manhã. Há quanto tempo ele estava correndo???

Houve um tempo em que pensou ter despistado os perseguidores e finalmente sentiu que poderia descansar. Sentou-se com dificuldade na grama, escondido atrás de uma imensa pedra que parecia emergir do chão. O ar estava tranquilo, nenhum som ameaçador parecia chegar até ele. Mesmo assim, ele mantinha o baú perto de si, como a coisa mais preciosa do mundo. Seu corpo doía como se ele tivesse sido atingido por dezenas de flechas, seus músculos pareciam ferver. Em seus devaneios, ele lembrou-se, rindo, de como o azar em sua vida lhe tinha trazido uma nova oportunidade de lucro...

Lembrou-se de alguns dias antes, do velho que tinha roubado, de seus lucros inúteis de latão e cobre com aquele assalto, toda aquela falsa riqueza oculta em um baú dentro de sua bela carruagem. Nada daquilo seria muito lucrativo para ele e Dina, mas talvez... talvez isso tudo servisse para alguma coisa afinal.

Ele se lembrou de como planejou tudinho... ele voltaria para seu antigo lar, com uma proposta irrecusável para seu tio Lyn. Ele e seu povo nunca iriam recusar um baú cheio de ouro, em uma época de pobreza. Ele então explicaria a rota que a vítima estava tomando e indicaria o ponto de abordagem ideal na estrada, onde o grupo de salteadores poderia surpreender a bela mulher de cabelos negros, olhos brilhantes como joias e rosto belo, que parecia esculpido em madeira... uma jovem que guiava uma linda carruagem, guardando um atraente baú do tesouro.

Era o plano perfeito. Dina fingiria se sentir apavorada com o assalto e deixaria que levassem o baú. A carruagem não era de interesse dos salteadores e daria muito trabalho levá-la também, talvez ficassem com o cavalo, mas se fosse o caso, Dina saberia onde encontrar outro para substituí-lo. Os ladrões roubariam o baú, sem saber que tudo que havia ali dentro eram coisas sem valor. Assim que eles voltassem, Duan estaria esperando por eles, para trocar o latão e o cobre pelas moedas de ouro da sala de riquezas de Crimeland. Com o baú, ele teria boas condições de roubar quantidades imensas de ouro.

É, era um belo plano, mas, mesmo assim, ali estava ele. Sozinho, exausto, no meio do nada, com um baú extremamente pesado e sendo perseguido por inimigos altamente armados.

E falando neles... ele foi puxado de volta à realidade pelo som, não tão distante, de vozes. Muitas vozes.

E galopes.

E então a perseguição recomeçou. Mas dessa vez, nem mesmo a adrenalina conseguia mantê-lo correndo do mesmo jeito de antes. Seu rosto estava suado, seu corpo parecia estar prestes a desabar quando ele finalmente conseguiu chegar no bosque. Ali, ele sabia, perto de um imenso pinheiro, estava o seu ponto de encontro.

Não pela primeira vez, ele se perguntou por que tinha pensado em um lugar tão distante como ponto de encontro... e não pela primeira vez, a resposta pareceu atingi-lo como uma faca nas costas: “você era para ter fugido de cavalo, seu idiota”.

Ele caiu na lama. Não uma, mas duas vezes. Na segunda, seu manto ficou preso em uma rocha e rasgou e o baú foi arremessado para fora da sacola que antes o ocultava. Duan tentou se levantar, desesperadamente, tirou o manto e jogou longe, pôs-se em pê e correu, desajeitado, em direção ao baú. Quando o tinha em segurança, nos braços, ele voltou a correr, mas o peso daquele tesouro era quase insuportável. Seus joelhos falharam poucos metros depois e ele desabou no chão.

O salteador estava semiconsciente, mas conseguia ouvir o som das vozes se aproximando. Àquela altura, o sol já se punha e tingia o céu de vermelho, por entre os galhos das árvores. A mata era iluminada pelo tremeluzir das tochas dos inimigos que o circundavam. Primeiro vieram os ladrões montados, dentre eles seu famigerado tio, em seguida, alguns homens e mulheres exaustos pela perseguição, mas com o ódio brilhando no olhar.

Aos poucos, Duan sentou-se e puxou o baú para perto de si. Bem à sua frente, Lyn desmontou de seu cavalo e apontou-lhe uma espada brilhante. A lâmina estava a menos de 1 metro de seu pescoço. Seu sorriso era zombeteiro, mas havia também algo em seu olhar além de raiva e frustração... seria decepção?

Duan não se importava, mas, afinal, seria isso? O fim do Lobo? Perseguido até a morte pelo povo que roubou?

- Você me enoja, Duan Harish. Agora, vai devolver o que tomou de nós, o baú do tesouro!

- E depois?

- Depois? Vai pagar com a vida pelo erro que cometeu.

- Não é uma boa troca, sabia disso? Mas talvez seja uma boa ideia para o Byron, não é mesmo, primo?

Ele olhou de relance para um garoto que montava um dos cavalos, ao lado do chefe Lyn. Byron era um moleque magricelo e corcunda, não parecia um líder, nos moldes dos salteadores de Crimeland, mas sem Duan ele não teria concorrência. Um dia ele se tornaria o novo chefe.

Por algum tempo, eles haviam sido criados como irmãos, então Duan sentia alguma simpatia pelo menino, muito embora ele duvidasse que o sentimento fosse recíproco.

- Não fale com o meu filho! Você não tem esse direito! Você perdeu a sua honra. – Gritou Lyn, os olhos fixos em seu adversário.

Mas Duan abria um sorriso, enquanto se levantava calmamente. – Você com isso de honra, honra, honra. Isso cansa às vezes, chefe.

E então ele percebeu algo. Algo que nenhum de seus inimigos entenderia: bem atrás dele, havia um enorme pinheiro, o único em quilômetros. À sua direita, ele pôde ver um vislumbre de movimento. Ele não conseguiu disfarçar o sorriso ainda maior.

- Lyn, você conhece o Lobo, o silencioso ladrão que se esconde na escuridão até a hora de atacar?

- Não me venha com gracinhas, Duan. Alguns nobres estão te chamando assim, mas logo essa lenda vai acabar, junto com você.

- Ah, mas sabe... Lobos andam em alcateia, chefe Lyn. E a minha alcateia acabou de chegar.

Com um movimento rápido, ele levantou novamente o baú e com um último esforço, se jogou em meio à escuridão da mata. Lyn e seus homens ficaram atônitos, por um momento, mas, então, daquelas sombras surgiu um enorme alazão cinzento, puxando uma carruagem. Guiando o animal, estava Dina e dentro da carruagem, junto com o enorme baú, Duan acenava tranquilamente para seus perseguidores. Com um movimento das rédeas, o cavalo acelerou por entre a mata e quase atropelou os salteadores, forçando Lyn e alguns de seus homens a recuar. Os galhos se quebravam e estalavam conforme a carruagem seguia para longe. Ali, o caminho estava quase aberto para eles, pois as árvores cresciam muito espaçadas entre si, e havia clareiras e trilhas de animais que possibilitavam uma fuga rápida.

- Você está vivo, afinal. – Disse Dina, aliviada, virando seu rosto levemente para trás.

Duan respirou fundo, mas até mesmo isso era difícil. As dores da corrida e dos esforços tinham exaurido suas forças. – Sim, e graças a você. Acho que não teria sobrevivido nem por mais um minuto com Lyn falando aquelas baboseiras.

- Duan, você sempre pode contar comigo. Sempre, ouviu?

O jovem ladrão não respondeu. E para um tagarela como ele, isso queria dizer muita coisa.

“Viu só, até os vigaristas amam”, refletiu. Só então voltou-se para os adversários, que agora já estavam distantes.   

- Espero não vê-los nunca mais, meus amigos! Adeus! E obrigado pelo ouro! – Gritou o Lobo, logo antes de desaparecer de vista.

 

Fim


Copyright © 2021 de Bryan S. Duarte

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